quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

namoros das comadres...XII


os namoros das comadres... tá claro!

Ah comadre lembro bem quando ele me colocou uma flor no cabelo, tinha o meu vestido branco de tafetá, que com o vento levantava um bocadinho e via-se até acima do joelho, ai como eu corava, mas lá no fundo gostava que ele olhasse, subia a calçada devagarinho e ele sempre atrás de mim, tinha uns olhos cinza, era bonito o rapaz...nesse domingo antigo, ouve tarde de festejo, celebrava-se a Srª da Vitória lá na terra e as cachopas carregavam à cabeça ofertas e vestiam o seu melhor, sempre deitando o olho a quem lhes agradava...olhe comadre foi o melhor tempo, dos beijos às escondidas, santa ingenuidade, namorava-se à janela ou no fundo das escadas de porta da rua aberta, era assim que namorávamos, e enquanto nossas mães desfiavam um rosário de contas já velhas, as mãos do rapaz se inquietavam de volta das nossas pernas.
- pois eu comadre ía era namorar para o jardim, a mim ninguém me punha algemas no amor,  ele dizia-me coisas belas aos ouvidos, e eu remexia-me no banco como quem se remexe na cama, isoladamente lá passava um ou outro transeunte e acalmava-me, sim que eu não era de dar nas vistas, mas passava o tempo descuidada a fugir da escola e só a pensar no namorico, abraçados tínhamos sonhos gaiatos, sabe queria muito um anel de comprometida e jurei que me deixava encantar pelo par que mo oferecesse e não é que o primeiro anel foi o do casamento, pois é... e a jura eu cumpri até hoje.
- parece que foi ontem não é comadre...não há sol que queime tanto, nem fogo que incendeie como
o olhar apaixonado, esse que ainda bem recordo, que até me deixava em quebranto...tudo isto ainda nos permite sonhar, quantos sentimentos inacabados por lá ficaram, caprichos do nosso livro passado.

natalia nuno
rosafogo

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