terça-feira, 22 de dezembro de 2015

as comadres sofredoras...XI



as comadres pois então! sonhos são sonhos...

hoje as comadres falam de enfermidades, e justificam assim a sua ausência ao banco do jardim, só para ter a atenção da comadre...vão desfiando um rosário de penas...

- ai comadre passei mal, consultei o médico, mas não me achou nada, males da alma disse-me ele, então resolvi consultar um sacerdote, mas as rezas e os remédios tiveram o mesmo efeito, então para matar os males, ponho-me a ver a televisão e quando ouço o ruído duns pneus na rua, abeiro-me da janela com o pretexto de a fechar, e fico a observar o amigo novo da minha vizinha a Rute, lembra-se dela? pois é, agora arranjou este amigo não deixou que a viuvez lhe fizesse mossa...tudo isto se me afigura muito injusto, eu então, tenho de tomar uns comprimidos para que me chegue o sono para não pensar muito no que me apoquenta, esta minha natureza emocional não me dá descanso...
- ah comadre eu também sou muito emotiva, nunca vou ver um filme que não leve mais um lenço pois passo o tempo a fungar, e à noite levo um lenço para debaixo do travesseiro porque as recordações sempre me acodem e há sempre uma lagrimita teimosa...
- diz a terceira comadre: pois eu comadres, chega a noite, ponho os trocos na mesinha de cabeceira, dou corda ao relógio, apuro os ouvidos e ponho-me à escuta dos vizinhos de cima, aquilo é que é, noite sim, noite sim, fazem amor como quando eram jovens e eu, olhem lá adormeço cheia de ilusões...
- às vezes sou tentada a ficar todo o dia na cama com a colcha puxada sobre a cabeça, diz a outra comadre que se apoia entretanto no guarda chuva, mas depois bebo uns tragos e quebro a monotonia, não tenho outro remédio senão conformar-me... ponderou em silêncio e disse de seguida: bem que eu tentei apaixonar-me pelo homem do petróleo, mas sonhos são sonhos!... depois, sinto uma voz interior que me segreda «deixa, sossega com o tempo tudo passa», até as penas da alma!

natalia nuno
rosafogo

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