quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

fingem muito bem....as comadres XVI


Não tiram os olhos de nós comadre repare bem...o do lado esquerdo tem um chevrolet e deve ser homem de dinheiro, e um amigo nunca anda só, daí que estamos com sorte...mas vamos fazer que não estamos nada interessadas, que somos cultas, que apenas tomamos chá e assim fazemos o nosso papel, até que eles se decidam...o que me diz?
- não seria mau de todo, não gostava nada de ficar para tia e com a minha idade já não dá muito para esperar, então o que vier à rede é peixe.Espero que não sejam dois farsantes, ainda acredito na magia do destino que me trará um cavalheiro.
-  agora é demasiado tarde para voltar atrás comadre, estão vindo na direcção da nossa mesa, apenas a dois passos, a fazer-nos um aceno de cabeça, ..ai comadre não suspire que dá muito nas vistas, não tenho a menor ideia do que havemos de fazer...deixo tudo nas suas mãos,..eu improviso diz a resoluta comadre, não seja dramática, precisamos deles, estaria a trair o meu sonho se não aproveitasse a ocasião...mas entretanto, um ligeiro vento se levantou, pegou em muitas folhas soltas que atapetavam o passeio e pôs fim à visão das comadres que tal como um caçador, disseram ao mesmo tempo... comadre perdemos as presas!

natalianuno



ai este mal que me aflige...XV



Comadre está a insinuar que eu  não tenho conhecimento do caso, mas não tem moral para me falar assim, olhe que a notícia li no jornal e faço sempre justos os meus julgamentos, não sou como muita gente que conheço que traz emporcalhados os pensamentos, garanto-lhe que ele não tinha a mais pequena ponta de delicadeza com ela, infligia-lhe feridas no amor próprio, que tiveram este desfecho fatal...assim tal e qual!Andou estes anos todos a ter relações com esta aberração,..criatura temerosa! Eu sempre suspeitei daquelas ídas e vindas a casa do escritor àquele lugar feio, às vezes até falava com ela para lhe dificultar o avanço, mas a pobre coitada, sonhava, como se encaminhasse seus passos para a felicidade, olhe comadre são os vaivéns da vida, falar ou não falar com ela era como chover no molhado, e olhe sabe que mais , o boticário é que revelou que vendeu o veneno ao escritor. é verdade, levou-a à perdição e acabou com ela... comadre, ele há vidas que davam um bom romance... vou-lhe contar um segredo, há dias também recebi um convite de um admirador para que aceitasse ir tomar um chá com ele, mas ao lembrar-me da história do escritor, até tive um estremecimento...ai este estranho mal que me aflige comadre, assim como que uma ansiedade...não sei se me compreende!?

natalianuno

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

a vida é complicada...dizem as comadres!!! XIV




olhe comadre desculpe mas não gosto de perder o meu santo tempo, tenho que ter sempre as mãos ocupadas, sim que eu não sou de intrigas, nem de falar da vida dos outros já me bem basta a minha, esta vinda ao médico foi mesmo só porque tenho andado com uma azia que nem queira saber...ah pois! e sabe porquê, no domingo fui à minha sogra que toda solicita nos deu de jantar, não é que me fez um mal dos diabos, desconfio que lhe deitou alguma coisa, a ninguém fez mal senão a mim...
- então o que espera a comadre ela nunca gostou de si! lembro bem das coisas que dizia a seu respeito...
- pois comadre, mas o que lá vai lá vai, a velha não gosta de mim, e tem razão que eu também não gosto dela! ora...
- há que Deus que o filho tinha de se casar com uma prima que mora lá nos montes alentejanos, que quase não sabe ler nem escrever, tudo por causa dos dinheiros e das terras...ah mas ele não foi nisso, que o meu Adolfo não é por ser meu homem mas é muito fino, nem parece filho da megera...
- vai daí a comadre vem contar tudo isso ao médico?
- não que não gosto de dizer mal da família, mas bem que ela merecia, pois já não é a primeira vez que acontece, olhe da última vez comi lá uma açorda de coentros que ainda hoje não posso com o cheiro, senão fosse mãe de quem é eu lhas cantava, mas não sou vingativa e olhe comadre até já estou muito melhor só de falar consigo... sabe estou a tricotar um cachecol para oferecer à dita no Natal, era o que mais me faltava ir gastar dinheiro numa prenda, ela que passa a vida a dizer às vizinhas que lhe roubei o filho.
- olhe comadre a conversa está muito boa, mas já estou com os calores de novo, nem estou com paciência para esperar a vez, vou sentar-me na esplanada a apanhar ar...
- vá comadre e veja se dá conta do que se passa, pois dizem que a mulher do Alfredo passa lá a vida a ver se troca de marido....

natalianuno

noras...na boca das comadres...claro! XIII




ai comadre vou-lhe contar, mas que isto não saia daqui, então não é que a minha nora quase bateu no meu filho!? Não foi ele que me contou, não senhora, foi uma amiga dos dois...nem sei com que intenção, parece-me bem que com boa intenção não foi não! que acha a comadre?
- deixou-me sem fala e sem palavras tão bom rapaz esse seu filho, olhe se fosse com o meu não se dava ela bem não, este meu tem o feitio do pai, só eu mesmo para os aturar por isso não arranja quem o queira, mas olhe comadre tenho pena do seu Aníbal quem havia de dizer, bem que ela sempre me pareceu uma serigaita, nunca lho disse para não a ofender a si comadre, mas não me parece lá grande coisa essa sua nora...a mim nunca me enganou! e olhe comadre boa rês também não é essa amiga deles, quer é desacato pra ficar com ele, abra os olhos comadre qualquer uma delas não presta...ai estas raparigas d'agora!!!! pensa que elas põem um avental como nós, e deitam mãos a tudo?! não comadre querem é unhas postiças, pestanas postiças, rabos e mamas postiças, aparelhos para endireitar os dentes, olhe sabe que mais quem lhos endireitava era o meu Joaquim...ele há lá mulheres como nós!
- tem razão comadre, também assim penso, mas olhe que nem por isso temos mais sorte, porque os nossos homens estão sempre de olho nessas que mencionou e que são todas postiças, enquanto nós estamos a coser-lhe as meias e a passar-lhe as camisas a ferro ou agarradas aos tachos, andam eles a pensar sabe Deus o quê...
- sabe que mais entre marido e mulher não se deve meter a colher...e o seu filho tem pinta não é melhor que os outros, não terá a rapariga razão?
- ai que cheiro a esturro...pronto lá deixei esturrar o feijão...

natalianuno

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

namoros das comadres...XII


os namoros das comadres... tá claro!

Ah comadre lembro bem quando ele me colocou uma flor no cabelo, tinha o meu vestido branco de tafetá, que com o vento levantava um bocadinho e via-se até acima do joelho, ai como eu corava, mas lá no fundo gostava que ele olhasse, subia a calçada devagarinho e ele sempre atrás de mim, tinha uns olhos cinza, era bonito o rapaz...nesse domingo antigo, ouve tarde de festejo, celebrava-se a Srª da Vitória lá na terra e as cachopas carregavam à cabeça ofertas e vestiam o seu melhor, sempre deitando o olho a quem lhes agradava...olhe comadre foi o melhor tempo, dos beijos às escondidas, santa ingenuidade, namorava-se à janela ou no fundo das escadas de porta da rua aberta, era assim que namorávamos, e enquanto nossas mães desfiavam um rosário de contas já velhas, as mãos do rapaz se inquietavam de volta das nossas pernas.
- pois eu comadre ía era namorar para o jardim, a mim ninguém me punha algemas no amor,  ele dizia-me coisas belas aos ouvidos, e eu remexia-me no banco como quem se remexe na cama, isoladamente lá passava um ou outro transeunte e acalmava-me, sim que eu não era de dar nas vistas, mas passava o tempo descuidada a fugir da escola e só a pensar no namorico, abraçados tínhamos sonhos gaiatos, sabe queria muito um anel de comprometida e jurei que me deixava encantar pelo par que mo oferecesse e não é que o primeiro anel foi o do casamento, pois é... e a jura eu cumpri até hoje.
- parece que foi ontem não é comadre...não há sol que queime tanto, nem fogo que incendeie como
o olhar apaixonado, esse que ainda bem recordo, que até me deixava em quebranto...tudo isto ainda nos permite sonhar, quantos sentimentos inacabados por lá ficaram, caprichos do nosso livro passado.

natalia nuno
rosafogo

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

as comadres sofredoras...XI



as comadres pois então! sonhos são sonhos...

hoje as comadres falam de enfermidades, e justificam assim a sua ausência ao banco do jardim, só para ter a atenção da comadre...vão desfiando um rosário de penas...

- ai comadre passei mal, consultei o médico, mas não me achou nada, males da alma disse-me ele, então resolvi consultar um sacerdote, mas as rezas e os remédios tiveram o mesmo efeito, então para matar os males, ponho-me a ver a televisão e quando ouço o ruído duns pneus na rua, abeiro-me da janela com o pretexto de a fechar, e fico a observar o amigo novo da minha vizinha a Rute, lembra-se dela? pois é, agora arranjou este amigo não deixou que a viuvez lhe fizesse mossa...tudo isto se me afigura muito injusto, eu então, tenho de tomar uns comprimidos para que me chegue o sono para não pensar muito no que me apoquenta, esta minha natureza emocional não me dá descanso...
- ah comadre eu também sou muito emotiva, nunca vou ver um filme que não leve mais um lenço pois passo o tempo a fungar, e à noite levo um lenço para debaixo do travesseiro porque as recordações sempre me acodem e há sempre uma lagrimita teimosa...
- diz a terceira comadre: pois eu comadres, chega a noite, ponho os trocos na mesinha de cabeceira, dou corda ao relógio, apuro os ouvidos e ponho-me à escuta dos vizinhos de cima, aquilo é que é, noite sim, noite sim, fazem amor como quando eram jovens e eu, olhem lá adormeço cheia de ilusões...
- às vezes sou tentada a ficar todo o dia na cama com a colcha puxada sobre a cabeça, diz a outra comadre que se apoia entretanto no guarda chuva, mas depois bebo uns tragos e quebro a monotonia, não tenho outro remédio senão conformar-me... ponderou em silêncio e disse de seguida: bem que eu tentei apaixonar-me pelo homem do petróleo, mas sonhos são sonhos!... depois, sinto uma voz interior que me segreda «deixa, sossega com o tempo tudo passa», até as penas da alma!

natalia nuno
rosafogo

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

direitos iguais..comadres.X


comadres! atrevidas...

deixa-te de gracejos! fala a sério, e ele perguntou-te isso? se alguma vez te sentiste atraída por outro depois de casada? mas essa é demais e tu que respondeste? sem dúvida, em certas ocasiões? não posso crer!
- então comadre ócios da profissão, que culpa tenho?! Enfrentar todos os dias aqueles borrachos não é fácil não achas?
- és a minha melhor amiga, mas nunca eu faria isso, temos temperamentos distintos, isso é colocar o casamento em pavimento escorregadio é perigoso por isso afirmaria que não, suspiraria como uma criança e diria que jamais olharia outro com segundas intenções...no fundo uma mentira piedosa que o levaria às nuvens...aposto que cairia que nem um patinho convencido que era a verdade.
- a comadre soltou uma gargalhada com tão inesperada revelação e disse: olha mas cá comigo resultou, hà uns meses que andava impossível, agora que lhe falei abertamente sobre o que se passa, deixou de almoçar com as clientes e vem almoçar comigo, para grandes males, grandes remédios.

- olha conta-me tudo, mas entretanto vou preparar uma bebida para ambas, esta nossa conversa está muito animada, e nossos pares devem ter as orelhas a arder, sabes, o bom senso também me diz que temos de ser firmes no trato com eles, e estarmos atentas nos abraços nos beijos, se são ou não afectuosos, e depois abordar os temas com cuidado e trazê-los de rédea curta.

natalia nuno